É fato consumado que o ato de empreender e de se fazer gestão de um empreendimento mudou radicalmente nas últimas duas décadas. A aceleração dos processos de desenvolvimento, aplicação e consolidação de tecnologias alterou profunda e irreversivelmente o próprio conceito do que vem a ser um empreendimento.
Barreiras geográficas deixaram de ser fatores impeditivos. Barreiras de entrada em mercados e setores se tornaram ineficazes diante da capilarização dos conhecimentos técnicos para se criar e melhorar um modelo de negócio. A terceirização das atividades que não são o centro gravitacional do negócio, criando estruturas internas mais enxutas e cadeias econômicas mais complexas.
Uma transformação tão ampla que impõe novas práticas aos empreendimentos. Tem-se a necessidade de constituir flexibilidade nas estruturas organizacionais das empresas. De se implementar e manter uma gestão colaborativa e em sincronia entre o contexto estratégico e os processos operacionais. Estruturar instrumentos para amplificar a capacidade de comunicação com o mundo externo e o ecossistema econômico em que inserida a corporação.
E, principalmente, a necessidade de se coletar, contextualizar e analisar a enorme quantidade de dados gerados por todas essas operações (além dos dados externos), para a constante adequação do modelo do negócio, no intuito de que o empreendimento seja perene e possa manter e/ou elevar seu posicionamento de mercado.
Para grande parte dessas operações, a revolução tecnológica trouxe soluções, cada vez mais automatizadas e precisas. Entretanto, é ainda indispensável que o empreendimento possua pessoas com alta capacidade de análise e visão estratégica para transformar tais inovações em crescimento sustentável e melhores resultados econômico financeiros.
Impulsionar negócios e empresas, utilizando-se do crescimento exponencial dos recursos tecnológicos disponíveis, requer inteligência compartilhada por profissionais de todos os setores envolvidos na operação empresarial. Controladoria, contabilidade, marketing, gestão de pessoas, diretoria, financeiro, jurídico. A integração completa é indispensável.
Nesse novo panorama, o papel do direito corporativo passa por uma profunda transformação. Assume função essencial à criação e manutenção das estruturas organizacionais integradas e focadas na evolução de curto, médio e longo prazo, muito além de contratos e disposições formais. É determinante para que o empreendimento deixe de ser um ente rígido, assumindo riscos controlados e possuindo estrutura com flexibilidade para se alterar rápida e constantemente.
É responsabilidade do direito corporativo a conceituação (através da análise de dados), a implementação (com a integração de toda a organização) e manutenção (flexibilidade segura da gestão e processos) da cultura do empreendimento, que permite que a estratégia do negócio passe a ser focada no planejamento preditivo (antecipar-se aos movimentos de mercado), garantindo competitividade, resultados expressivos e a continuidade do negócio.
Para obter os resultados desejados e cumprir com sua função, o direito corporativo deve também passar por uma revolução tecnológica em sua aplicação. A utilização de instrumentos e ferramentas como o compliance e programas de integridade, a governança corporativa (aplicada à uma estrutura integrada e ampla) e programas de coleta e gestão de dados para inteligência de negócios são indispensáveis para o aprofundamento e aperfeiçoamento constantes na gestão jurídica e de passivos processuais.
Todas essas ferramentas são necessárias para que se possa estabelecer uma cultura empresarial sólida, capaz de racionalizar riscos e atividades operacionais, permitindo estratégias de médio e longo prazo mais seguras (planejamento preditivo). Está-se diante de uma mudança profunda e inafastável na forma como o direito corporativo, em todas as suas esferas, se insere na realidade dos empreendimentos e empreendedores. E a sua aplicação assume papel de destaque na obtenção de resultados melhores e crescimento sustentável dos negócios.